Você provavelmente já ouviu a expressão “corram para as colinas”. Essa frase costuma ser usada para alertar sobre um perigo iminente, como um chamado urgente para buscar proteção diante de algo que se aproxima.
Ao longo da última semana vimos esse sentimento tomar conta do mercado financeiro global, diante de um risco que reacendeu o sinal de alerta: o anúncio das novas tarifas de importação pelo governo de Donald Trump. O impacto desse anúncio foi tão significativo que muitos poderiam dizer que era hora de correr para as colinas, ou “run for the hills” em bom inglês.
O anúncio de Trump, feito no último dia 2, gerou uma reação imediata mundo afora. O VIX – índice que mede a volatilidade esperada do mercado e, por consequência, o “termômetro do medo” – disparou, refletindo a elevação abrupta na percepção de risco por parte dos investidores. Como mostra o gráfico abaixo, o salto no VIX foi claro e direto: o mercado entrou em modo de pânico.
Os ativos de risco, naturalmente, sentiram o baque. O S&P 500, principal índice de ações dos EUA, recuou cerca de 10% ao longo dos dois dias que se seguiram, enquanto o Nasdaq, mais exposto a empresas de tecnologia e crescimento, caiu impressionantes 13% nesse mesmo período.
Em paralelo, as taxas dos juros futuros projetadas para os vencimentos de curto e médio prazo caíram significativamente, em um movimento que revela uma reprecificação dos ativos de renda fixa soberanos. Como as taxas caíram, os preços desses títulos subiram, reforçando sua posição como porto seguro no universo de investimentos.
No gráfico abaixo, podemos ver como a curva de juros se comportou nos dias seguintes ao anúncio do “tarifaço” de Trump.

Proteção à guerra das tarifas: fuga para a segurança
Como reflexo do pânico no mercado, os yields dos Treasuries, especialmente os de vencimentos mais curtos, recuaram com força, refletindo dois fatores principais:
- Primeiro, a expectativa de que o Federal Reserve possa ter que reduzir juros caso as tarifas levem a uma desaceleração mais acentuada da economia;
- Segundo, o movimento clássico de fuga para a segurança, com investidores migrando de ativos de risco para instrumentos mais conservadores.
Essa movimentação beneficiou diretamente os títulos públicos americanos, que não apenas se valorizaram, mas também apresentaram menor volatilidade em comparação com outras classes de ativos. O comportamento reforça sua função tradicional de proteção de capital em momentos de estresse nos mercados.
No entanto, é importante lembrar que nem toda renda fixa é sinônimo de segurança. Os títulos corporativos – especialmente os de alto risco, conhecidos como high yield – sofreram com o aumento dos spreads de crédito, como mostra o gráfico abaixo. A incerteza elevou o prêmio exigido pelos investidores para carregar esse risco, pressionando negativamente seus preços.

Dessa forma, a partir do exemplo que tivemos com esse pânico no mercado financeiro, conseguimos confirmar onde está a melhor proteção, ou qual é a montanha mais alta para servir de abrigo: Treasuries de curto prazo.
Como o investidor brasileiro se protege das tarifas?
Por outro lado, a pergunta natural para o investidor brasileiro é: o que fazer para se proteger por aqui?
Embora o Brasil não esteja no centro das medidas tarifárias, os efeitos globais foram sentidos também no país. Nos dias seguintes ao anúncio, o Ibovespa caiu cerca de 4%, enquanto o real se desvalorizou 3,5%. Os juros futuros locais também recuaram, acompanhando o movimento internacional e contribuindo para a valorização dos títulos públicos prefixados e atrelados à inflação (IPCA+).

No entanto, esse comportamento não é garantido em todos os episódios de aversão a risco global. Em muitos casos, o oposto ocorre: os juros sobem, e esses papéis sofrem perdas.
É por isso que, no Brasil, o verdadeiro porto seguro em momentos de turbulência são os títulos públicos indexados à taxa Selic – as LFTs. Esses papéis têm baixa volatilidade, alta liquidez e oferecem uma proteção mais consistente em cenários de incerteza e fuga de capital.
Em resumo: diante de um cenário global mais incerto, os investidores correm para ativos que entregam segurança, previsibilidade e liquidez. Lá fora, o destino são Treasuries de curto prazo. Aqui dentro, são as LFTs. E, como nos filmes, quando o risco aparece no horizonte, o instinto mais seguro ainda é: “corram para as colinas” – ou melhor, para os ativos certos.