São Paulo já se tornou parte da minha rotina. A capital paulista contrasta com o interior do Paraná em diversos aspectos, mas um deles é especialmente instigante: o famoso trânsito paulistano. Entre os inúmeros táxis e ubers que pego frequentemente, já percebo claramente diferentes perfis de motoristas.
Há aqueles mais apressados e ansiosos, que estão sempre de olho no Waze e constantemente atualizando a rota para tentar ganhar alguns metros de vantagem.
Em menor frequência, também encontro os mais tranquilos, que conferem a rota de vez em quando, avaliando cuidadosamente se vale a pena trocar de faixa. Estes últimos ponderam, talvez até de forma inconsciente, se o estresse de atravessar corredores cheios de motos, enfrentar entroncamentos complicados ou ter que voltar rapidamente à faixa anterior para não perder uma saída importante realmente compensa a possibilidade de andar alguns metros mais rapidamente.
Na prática, em um trânsito pesado, mudar de faixa sem critério quase nunca te faz chegar mais cedo ao seu destino. Pelo contrário, a ansiedade de encontrar constantemente uma “faixa mais rápida” muitas vezes só te faz perder tempo e acumular frustrações ao perceber que teria chegado mais ou menos no mesmo horário e sem ter passado por maiores riscos.
Nos investimentos, especialmente em períodos de alta volatilidade, a lógica é muito parecida. A ansiedade e o medo costumam induzir decisões precipitadas, prejudicando os resultados no longo prazo. Vender ativos no meio da turbulência, ou comprar agressivamente apostando numa recuperação imediata, são exemplos clássicos de movimentos que raramente terminam bem para o bolso do investidor – e as vezes até atrasam o horário de chegada previsto pelo Waze.
E se eu te disser que justamente nos momentos de maior tensão você deveria mexer menos na sua carteira? Seria algo como: se você está diante de um congestionamento pesado, mantenha-se na sua faixa e aceite as dificuldades do percurso que você chegará mais rápido. Diferentemente dos constantes recálculos de rota do GPS, vou te apresentar alguns números que mostram que manter-se na sua faixa é o caminho mais seguro para chegar ao seu destino financeiro.
A importância de ficar posicionado
Veja só esses dados: nos últimos 10 anos, quem investiu em uma cesta de ações que replicasse o Ibovespa (IBOV) acumulou um retorno de 138%. Parece interessante, mas esse retorno não é em linha reta. Na verdade, grande parte desse retorno ocorreu em poucos dias.

Se este mesmo investidor tivesse perdido os cinco melhores dias do IBOV, teria tido um retorno, nos mesmos 10 anos, de 55%. Ficando fora do mercado pelos 20 melhores dias, teria tido um prejuízo de -21%!
O índice das ações pagadoras de dividendos (IDIV) segue comportamento similar, mas ainda mais discrepante. O retorno acumulado dos últimos 10 anos foi de 243%. No entanto, grande parte desse retorno veio dos 20 melhores dias do IDIV. Se o investidor tivesse perdido esses 20 melhores dias, veria um retorno acumulado de somente 25%. Para os FIIs (IFIX), a diferença é menor, mas ainda é significativa: mais da metade do retorno dos últimos 10 anos ocorreu em apenas 20 dias.



“Mas, Carol, não é claro que se eu excluir os melhores dias do cálculo, o retorno acumulado será inferior?” Sim, é lógico. O que eu quero te mostrar aqui é sobre o momento que esses retornos ocorrem.
O mais curioso – e ao mesmo tempo alarmante – é que esses melhores dias frequentemente ocorreram próximos aos piores dias do mercado. Um exemplo clássico foi março de 2020. Justamente quando vivíamos o início da crise da Covid-19, o Ibovespa teve dias de quedas muito grandes, chegando a perder quase 15% em um único dia (12/03/2020) – quem se lembra dos circuit breakers?
Porém, nesse mesmo mês, também ocorreram os melhores dias, como em 13/03/2020 (+13,91%) e 24/03/2020 (+9,69%). Quem saiu assustado no pior momento dificilmente teria voltado rapidamente para pegar a forte recuperação subsequente.
E isso não acontece apenas com o IBOV. Índices como o IDIV e até o IFIX, mais estável por se tratar de fundos imobiliários, apresentam comportamentos semelhantes. Por exemplo, o IFIX registrou sua pior queda histórica no dia 18/03/2020 (-13,23%) e, logo na sequência, teve altas expressivas, como 25/03/2020 (+5,82%).
Esses dados mostram que os melhores dias de retorno frequentemente ocorrem em momentos de pânico e incerteza. Tentar prever esses dias – o famoso market timing – é como trocar de faixa no trânsito achando que vai chegar mais rápido.
Assim como em São Paulo, você precisará acertar duas vezes: quando sair da sua faixa e quando voltar para ela. No final das contas, tentando evitar perdas, os investidores acabam saindo do mercado exatamente quando deveriam permanecer investidos, perdendo momentos importantes de recuperação.
Estudos conduzidos pela Morningstar e CharlesSchwab chegaram a resultados parecidos para o mercado internacional, concluindo que tentar acertar o melhor momento de mercado poderá te fazer, na verdade, perdê-lo. É estatística.
Conheça seu perfil e diversifique
A melhor maneira de enfrentar períodos turbulentos não é tentar adivinhar movimentos de curto prazo, mas sim conhecer bem seu perfil de investidor, respeitar uma estratégia clara de alocação e garantir uma carteira diversificada.
Investidores conservadores terão naturalmente carteiras mais estáveis, enquanto investidores com perfil arrojado devem manter a disciplina necessária para suportar quedas expressivas, sabendo que o longo prazo tende a recompensá-los.
A diversificação, envolvendo ações, renda fixa, fundos imobiliários e ativos internacionais, é uma estratégia essencial para reduzir riscos específicos e garantir tranquilidade na jornada financeira.
Assim como mudar frequentemente de faixa em um trânsito congestionado raramente te levará mais rápido ao destino, trocar constantemente de ativos em períodos de crise não trará melhores resultados financeiros – e pode até prejudicar sua jornada.