Nos últimos dias, pensei muito sobre o que escrever a respeito de Warren Buffett. Em meio a tanta informação rasa, selecionei 6 lições dentre os aprendizados que mais me inspiram — e que também podem inspirar você.
No fim de semana passado, o mundo financeiro parou com o anúncio de sua despedida como CEO da Berkshire Hathaway. Aos 94 anos, Buffett deu adeus no mesmo palco que, ainda jovem, o aterrorizava — um palco que ele aprendeu a dominar ao longo de décadas. É esse percurso, de pavor inicial a orador confiante, que torna sua saída ainda mais inspiradora.
Alice Schroeder, em sua obra A Bola de Neve, lembra que ele “não sabia interpretar pessoas, era incapaz de jogar conversa fora e, com certeza, não era um bom ouvinte”. Esse lado tão humano sempre me cativou: por trás do “Oráculo de Omaha” havia alguém com as mesmas inseguranças que eu – e talvez você.
Morro de rir quando lembro da história do quarto com goteira. Suzie pediu algo para conter a água; Buffett apareceu com um escorredor de macarrão. Ela retrucou: “Mas isso tem furos!” Ele voltou minutos depois com o escorredor apoiado numa assadeira — simples, eficaz e barato, do jeitinho que eu também faria.
Não por acaso, um dos primeiros investimentos de Buffett — ainda jovem — foi nos livros e cursos de Dale Carnegie, para “curar” seu medo de falar em público. Ele entendeu que, se quisesse se tornar um investidor de verdade, precisava desenvolver essa habilidade. Foi um investimento pequeno — mas que, assim como os juros compostos, gerou retornos exponenciais, em confiança e presença de palco.
6 lições de Warren Buffett
Ver esse mesmo homem, aos 94 anos, despedir‑se do palco que tanto amou odiar é a prova viva de que investir em si mesmo rende frutos por toda a vida.
Sempre fui avesso ao culto a ídolos — talvez por ser introvertido — mas, após muitas horas lendo e absorvendo a experiência de Buffett, sei que sou profundamente inspirado por ele.
E aqui vão os meus porquês:
1) Encare seus medos e invista em você
Buffett tinha pânico de falar em público, a ponto de vomitar antes de subir ao palco no curso de Dale Carnegie. Ainda assim, viu ali uma chance de “curar” uma limitação crucial. Hoje, a reunião anual da Berkshire é um dos eventos mais aguardados do mercado — fomentado por um investimento inicial de poucos dólares em autodesenvolvimento.
2) Prefira soluções práticas
O combo escorredor + assadeira ilustra seu estilo: gastar o mínimo necessário, proteger o que importa e resolver o problema imediatamente. É uma filosofia que aplico diariamente na vida e no trabalho — sem frescura, apenas eficiência.
3) Aprenda com perdas
Aos 21 anos, Buffett investiu no posto Sinclair ao lado de um Texaco. Lavagem de para-brisas e panfletagem não bastaram para atrair clientes, e ele perdeu o equivalente a R$ 150 mil hoje. Essa lição sobre negócios com marcas fortes e lealdade dos clientes guiou toda a sua carreira como investidor de ações.
4) Defina metas claras
Em 1951, ele calculou: “Se eu tiver 1% das 175 mil ações da GEICO e a empresa chegar a US$ 1 bilhão, serei milionário.” Décadas depois, comprou 100% da GEICO por ~US$ 4,7 bi (em valores atuais) e hoje ela vale mais de US$ 30 bi. Sonhos ambiciosos precisam de números e prazos bem definidos. Como diria Arquimedes: me dê uma alavanca e eu moverei o mundo.
5) Paciência é o seu maior ativo
Buffett entendeu cedo que “tempo no mercado” vence “timing de mercado”. Enquanto muitos se alavancavam ou vendiam impulsivamente, ele mantinha seus negócios mais rentáveis rendendo, não hesitando em compor grandes caixas quando as oportunidades minguavam. Essa disciplina gerou retornos extraordinários — um lembrete constante, para mim, de que as grandes vitórias vêm de decisões consistentes e de longo prazo.
6) Compartilhar multiplica o legado
Por fim, Buffett me ensinou que ensinar é, talvez, a mais bela prática. Há mais de dez anos compartilho análises com médicos, advogados e empreendedores — e não há recompensa maior do que ver alguém evitar um erro que eu mesmo já cometi. Assim como em Omaha, cada pergunta e cada resposta fortalecem a comunidade de investidores. Você, na sua área, deveria experimentar um dia.
Aos 94 anos, despedir-se do palco que ele tanto amou odiar tocou meu lado introvertido e me fez refletir: mesmo o maior investidor do mundo é, antes de tudo, humano — com inseguranças, erros e grandes lições.