“Ninguém quer ficar rico devagar.” Foi essa a resposta de Warren Buffett quando Jeff Bezos, então CEO da Amazon, perguntou por que a estratégia de investimentos de Buffett, aparentemente simples, não era amplamente replicada.
A rápida e crescente adesão às apostas esportivas no Brasil ajuda a confirmar a tese do megainvestidor. O comportamento reflete uma mentalidade voltada para o ganho imediato, algo que também aparece nos últimos dados da Anbima sobre o perfil do investidor brasileiro.
Em 2024, 23 milhões de brasileiros afirmaram ter feito algum tipo de aposta – isso representa 15% do total da população com mais de 16 anos. Mas eu apostaria (com o perdão do trocadilho) que esse número é ainda maior.
Isso porque os dados provavelmente estão contaminados por um viés de desejabilidade social, um fenômeno que leva as pessoas a responderem de forma mais aceitável ou socialmente bem-vista, e não necessariamente verdadeira, sobre determinados comportamentos.
A situação fica mais preocupante quando a pesquisa revela que 16% dos apostadores consideram as apostas como investimentos e cerca de 23% buscam ganhos rápidos, inclusive como solução imediata para os problemas financeiros.
Ao mesmo tempo, apenas pouco mais de um terço da população (37%) investe em produtos financeiros, incluindo os que aplicam exclusivamente na poupança.
Ainda assim, metade da população não aposentada espera que, no futuro, sua renda venha de fontes que não o INSS. Os números não vão fechar – meu colega, João Zanott, escreveu um ótimo texto sobre o assunto, mostrando por que é essencial começar a se preparar, independentemente da sua idade.
Ninguém quer ficar rico devagar: a matemática da renda futura
Fazer uma aposta é simples: há baixo esforço, expectativa de retorno alto, risco totalmente negligenciado e… azar estrutural. O tempo e a estatística estão a favor da casa. Se não estivessem, as casas de apostas não lucrariam tanto, né?
Em investimentos, o efeito é o oposto. Quanto mais longo o prazo, mais a probabilidade de ganho consistente aumenta, com os juros compostos tendo o tempo para atuar e as decisões deixando de depender do acaso.
Um exemplo prático é a Carteira 200 para Crescer, que eu mesma desenvolvo aqui na EQI Research há dois anos. Ela simula aportes mensais de R$ 200 em fundos imobiliários, o mesmo valor que a média dos apostadores — que também não pretendem depender do INSS — gasta por mês em bets.
No último mês, a carteira rendeu R$ 51 em dividendos e acumulamos cerca de R$ 5.400 em patrimônio até agora. É pouco? Talvez. Mas a renda já representa 25% do total do aporte mensal — e é uma renda vitalícia, fruto de uma construção paciente e consistente.
O contraste se intensifica quando lembramos que a geração Z é hoje a mais engajada nas apostas e, paradoxalmente, também a que deve enfrentar maiores dificuldades para se aposentar com segurança pelo sistema público.
O dinheiro que hoje alimenta um risco assimétrico poderia estar sendo investido de forma a beneficiar, de fato, o “eu do futuro”.
Se você, leitor, tem a capacidade de realizar aportes mais expressivos, está em uma ótima posição! A lógica dos investimentos permanece a mesma, mas a escala de seus resultados será exponencialmente maior. E, como Buffett bem observou, “ninguém quer ficar rico devagar”, mas o tempo passa para todos.