Os últimos dias têm sido de intensos debates sobre como melhor posicionar os investimentos em meio à turbulência que se instaurou no mercado desde que o Trump ergueu sua tabela de tarifas recíprocas para as câmeras, no dia 2 de abril.
Em nossos comitês de crise aqui do time de análise de investimentos da EQI, o normal foi: abrir as discussões com os futuros apontando forte queda nas Bolsas, para minutos depois sustentarem máximas contra o fechamento do dia anterior. Que não se sustentavam até o final do dia.
Dias assim pedem cautela.
Gosto da visão do Graham de que o “Sr. Mercado” é um maníaco-depressivo. Num momento ele está eufórico porque Trump suspendeu as tarifas por 90 dias; no seguinte, o petróleo despenca abaixo de US$ 60 e o medo de estagflação volta à tona.
Cabe a nós decidirmos se queremos embarcar nesse jogo.

Não faltam gráficos e estatísticas no X (antigo Twitter) para justificar tanto o “buy the dip”, quanto o “corra para as montanhas”. E é aí que mora o perigo.
O gráfico anterior, da Fidelity, é um ótimo exemplo. Ele mostra a performance do S&P 500 depois de quedas superiores a 10% — exatamente como a que estamos vivendo agora.
A conclusão? Não há. Exatamente isso: não há conclusão. Em metade das vezes o mercado subiu. Na outra metade, caiu.
Turbulência no mercado: copo meio cheio ou meio vazio?
E, para piorar, os dados excluem justamente os anos mais críticos da história: 1929, 1987 e 2020.
Ou seja, os piores momentos… ficaram de fora.
Estou aqui pra te lembrar que esse tipo de análise, no curto prazo, mais confunde do que ajuda.
Este não é o momento de agir com pressa, tentando ser o herói da própria carteira.
Entrar nesse jogo é mais ou menos como o “tudo ou mais constante” nas questões de física no colégio.
Acontece que, nos mercados, nada é constante.
E é justamente por isso que ganhar dinheiro aqui é tão difícil.
Quero que você entenda: não agir, agora, não é se omitir. É uma decisão consciente.
Por mais incômodo que esteja, ainda estamos longe de um verdadeiro pânico de mercado.
Já vi coisa muito pior.
Aliás, o S&P 500 ainda acumula alta de mais de 30% nos últimos dois anos.
Mesmo na crise de 1929, quando os mercados caíram mais de 80% ao longo de três longos anos, houve momentos de alívio — os famosos bear market rallies.
Então, cuidado.
Mesmo que as tarifas sejam revertidas, em que mundo viveremos?
O que fará o empresário americano, o brasileiro, o chinês?
Não tenho essa resposta.
Mas sei que estamos num mundo que parece ter esquecido Adam Smith — e crescimento, convenhamos, não está no cardápio por enquanto.
Por isso, por aqui, seguimos atentos. O trabalho continua intenso.
Conselhos para enfrentar a crise
Se tudo que você tem são cinco minutos, aqui vão quatro conselhos que gostaria muito de ter recebido em outras crises:
- As coisas podem piorar bastante: Se você anda perdendo o sono com seus investimentos, é sinal de que tem mais risco do que deveria. Corrija isso agora.
- Evite grandes mudanças: Se parte da sua carteira em ações ou fundos imobiliários te dá segurança e foi montada com profissionais, mantenha. Mas não caia na tentação de apostar pesado só porque caiu — ou porque “vai voltar”. Nós temos estudado com muita calma cada movimento. Alguns, mais óbvios, como a redução de exposição a commodities, já tínhamos feito desde o mês passado. Outros, refletiremos com cautela nos próximos dias.
- Não se alavanque: Usar dinheiro emprestado agora é brincar com fogo. No mercado, decisões de segundos deixam cicatrizes que duram anos. Lembre-se do LTCM, a gestora comandada pelos prêmios Nobel de economia que quebrou na crise da Rússia em 1998…
- Tenha pós-fixados e IPCA+: Nosso cenário-base continua sendo de inflação e juros mais altos. Uma de nossas poucas convicções até aqui. E nesse ambiente, títulos atrelados ao IPCA e ao CDI podem te ajudar a passar muito bem pela crise. Se tudo der certo, você ganha. Se der errado, também.